Oi, Instagram, Tchau, Instagram

Felipe Beck Le Bihan
4 min readMar 9, 2021

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"O clima é dramático e fake"

Reprodução — Twitter

Faz um tempo já. Saí do Instagram. Um mês, mês e meio, por aí. Sumi. Brinco, ainda que com certa pretensão, que virei um conceito: se não existo no Insta, então só existo na cabeça de quem lembra de mim. É a evolução da minha retórica pseudoconceitual de sempre.

Antes eram fotos bonitinhas, um grid com curadoria, musiquinha diferente nos Stories. Tudo para parecer mais bacana que o maninho seguinte no feed.

Aí chegou a pandemia. E com ela, algo que não podia mais oferecer à rede.

Não tenho casa de praia, nem de campo. Posso contar nas pontas dos dedos as vezes que vi meus amigos nesse último ano, e quais amigos vi nesse último ano. E antes que você, leitor, tome conclusões precipitadas, entenda: este não se trata de um julgamento em exercício acerca das atitudes de terceiros em tempos recentes. A informação toda sobre este assunto está na internet, e cada um faz o que bem entende com ela.

O que venho dizer é que, se antes minha presença na rede era pautada em ser mais legal e diferente que o próximo, fico de mãos atadas se tudo que fiz nesse último ano se resume, com toda sua mediocridade, a ver séries requentadas no streaming, ir no Pão de Açúcar e caçar alguma vaga de estágio que me desmotive da ideia de trancar a faculdade. Não tem filtro, nem música, nem look que salve essa estética.

E então, veio minha revolta.

O insta é brega, todo mundo no meu insta é brega, vou parar de seguir esse monte de gente brega e ficar só com quem eu gosto por aqui.

Tava tudo certo com esse sentimento, até o momento que mesmo as cool kids passaram a postar inescrupulosamente as fotos de seus rolês, devidamente fotografadas em 35mm ou em CyberShot, a depender da tribo que estamos nos referindo, acompanhados de uma trilha diretamente da PC Music.

Para contornar essa frustração, tentei seguir mais contas de memes, curadorias de moda, pessoas aparentemente bacanas — como a @brendahashtag, uma guria alemã que tem um brechó especializado em moda avant-garde e que eu recomendo pra todo mundo — e mesmo assim, me sentia ansioso, até mesmo sufocado. Não houve jeito. Se antes o Instagram era um oásis de autoafirmação, virou um lugar que me fazia, cada vez mais, mal. Não se tratava nem de um rechaço ao simulacro que alimentamos, mas do sentimento de que simplesmente deixei de pertencer aos espaços desta rede que estimulavam esse tal de "meu ego".

Porém, ainda que extremamente desencantado, eu não conseguia, imagino que por causa do hábito, sair daquele que tinha se transformado em um ecossistema de fotos na praia e gin tônicas com amigos, ainda que estivesse excluído das conversas que estavam acontecendo. Era um ciclo vicioso que ocupava meu tempo e me lembrava, de forma maçante, de toda a frustração com a vida que eu vinha levando durante estes tempos de isolamento.

E aí, em algum dia, eu só saí. Me deu um estalo, apaguei o app. Eu até poderia justificar que foi porque me inspirei em um post da tal da Brenda sobre Martin Margiela e sobre como ele influenciou muito da moda sem que ninguém visse seu rosto, já que ele nunca foi afeito à entrevistas e preferia que seu trabalho falasse por ele mesmo. Poderia dizer também que o Insta se tornou um ambiente tóxico, embora o seja já faz alguns anos. Poderia dizer, também, que foi porque a alternativa mais cool à toda essa narrativa brega foi justamente me excluir dela. Poderia dizer, como disse anteriormente, que virei um conceito, com toda a pretensão de me apropriar da dialética platônica.

Mas sejamos honestos: eu só tava bem irritado mesmo. Não teve estopim, gota d'água, nada. Não que eu me lembre, pelo menos. Talvez os Stories de um brega que sobrou entre meus seguidores.

Sair foi massa, vou ser bem sincero. Tive até tempo de digitar este que você tá lendo, olha só. E, para ser ainda mais cool, me comprei um Kindle e venho explorado um livrinho aqui e ali nesse tempo que eu estaria dedicando à repetitiva curadoria da minha página Explorar.

Não que esses tempos recentes tenham sido sem nenhuma recaída, é claro. Todavia, devo admitir que, apesar dos nossos atritos, eu e o Insta estamos em um relacionamento mais saudável ultimamente. A conta segue lá, e vez ou outra entro rapidinho, pelo computador mesmo, só pra ver as mensagens que me mandam no chat, trocar figurinhas aqui e ali, ver o que o crush anda fazendo, essas coisas, sabe?

Ninguém nesse mundo é isento de ser brega o tempo todo.

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Felipe Beck Le Bihan

Estudante na ESPM-SP. Consumidor de cultura pop e outras coisas também, autocrítico e às vezes meio mala. felipebeck.com